Maluncolandia

O Mundo de Dentro


DIÁRIAMENTE

Ela passa e dá bom-dia, seus óculos escorregam pelo septo, sua boca lhe canta saudades de tempos indecisos, o pensamento abstrai-se em problemas pessoais. Uma criança passa, ela sorri, lembra-se do mais novo resmungando, da fome do mais velho, dos constrangimentos cômicos de todos. A chuva chora, mas o ônibus passa. A árvore pede ajuda, e a benção a socorre. O presidente disse aquilo e no fundo a aborrece, mas o telefone vence hoje e tem o colégio das meninas. Na janela o mar a suga, fazendo o pensamento emudecer. O desejo do que crê estreita o limite possível, inaudível e invisível. Pensa na questão do tempo em relação ao impossível. Einstein disse, seu marido confirmou. O homem ao seu lado se levanta, lhe puxa para a realidade. Queria chover feito o céu ou correr feito o coletivo. Ela quase enxerga o fim do oceano quando aperta os olhos.
O ônibus para, o vidro a reflete com falsidade, imita sua imagem, modifica sua aparência. O olhar de desagrado, vendo-se de longe, muda ao ver à vitrine. Pensa em “queria poder” e assunta esse desejo... e cresce! Voa! Faz planos! Ai se pudesse! Ah com toda certeza sim!... E murcha novamente em baixo estima. Mas se lembra da família, a palhaçada dos amigos, ri sozinha. Suspira, fecha os olhos, pede ao Pai Eterno e não percebe seu coração expandindo, gigantesco. Está serena, tranqüila. No sonho alguém disse que era sua vez, ela espera paciente. Pede sinal para descer. Veste sua armadura de guerreira, sua coroa de rainha, seu véu de mãe... A sabedoria não precisa, já está estampada no rosto, em seu par de lentes sobre o nariz.
Inspira... Paciência... Retém... Esperança... Expira... Confiança...Desce do ônibus e vai trabalhar.

Onde estás

BemVindo à maluncolia da maluntropia.
à maluscópia malusco-fusca.
metasensorial, de palavras agridoces, e melodias espinhosas, de vozes como chamas de velas e maciez colorida.

onde sempre se encontra minhas próprias descrições derretendo.